A sorte que eu tive

Agora que posso volver os olhos para a névoa da confusão e do tatear incerto a que eu chamo a minha carreira, vejo que tive uma vantagem mais preciosa que ganhar um grande prêmio.

Fui um menino da roça com um reflexo condicionado para o trabalho duro, calejado para tudo. Há muitos anos tivemos um período de trabalho extraordinário na fazenda. Em vez de oito horas diárias, trabalhávamos 16 horas. De madrugada eu tinha que ir tateando ao estábulo acordar as vacas e arrancar-lhes leite. Foi a minha primeira lição de semântica. As vacas não “dão” leite. Só quem for hábil, forte e teimoso conseguirá extraí-lo.

Quando penso naquele tempo, vejo que havia muita conversa fiada na fazenda. Quando se arava um terreno novo, recém desbastado e ainda cheio de tocos e raízes que saltavam do chão e iam dar em cheio no rosto do trabalhador, a expressão usada era “amansar o terreno” – quando o certo seria exatamente o contrário. Passava-se o dia inteiro a “borrifar as maçãs” com verde Paris e arseniato de chumbo, mas na maioria das vezes o vento soprava em direção contrária e a gente voltava para casa parecendo uma estátua de bronze, coberto com uma camada de veneno que mataria qualquer menino que não fosse criado numa fazenda.

Onde quero chegar com meu relato? Na grande sorte que eu tive...
Quando finalmente me vi numa cidade grande e soube que tinha que trabalhar apenas 12 horas por dia, podendo dispor do resto do tempo como bem entendesse, custei a acreditar na minha boa sorte!
- J. P. McEvoy -

“ Na natureza não há prêmios ou castigos.

Há atos e consequências”.
- Robert Green Ingersoll -

Tenha uma boa semana!